Mortes por chuvas já superam o total do verão passado em SP
O dilúvio que atingiu a região metropolitana de São Paulo no último fim de semana fez o total de mortes causadas pelas chuvas do verão de 2022 superar o que foi registrado no ano passado, a pouco mais de um mês e meio de a temporada acabar. Foram 33 vítimas até agora — 24 registradas após os deslizamentos dos últimos dias — contra 25 em todo o verão do ano passado.
Os dados foram analisados pelo R7 a partir do levantamento da Defesa Civil de São Paulo na Operação Chuvas de Verão, realizada todos os anos de 1º de dezembro até 31 de março, para reduzir os danos de inundações e deslizamentos.
Entre as mortes do verão atual, a maioria foi causada por deslizamentos (16), seguidos das enchentes e enxurradas (11), raios (2), outros motivos (2) e inundações (1). A região mais afetada foi a de Guarulhos, com nove fatalidades registradas até a última atualização do levantamento diário, divulgado nesta segunda-feira (31).
Em Minas Gerais e na Bahia os eventos climáticos também causaram caos neste verão, com ao menos 50 vítimas e centenas de milhares de desabrigados nas duas unidades da federação.
As estatísticas da temporada em São Paulo estavam abaixo da média até a tragédia deste fim de semana. As chuvas causaram a morte de pelo menos 24 pessoas — oito delas crianças —, enquanto outras oito pessoas estão desaparecidas. Além das vítimas, 1.546 famílias estão desalojadas. Oito municípios decretaram situação de emergência.
O desastre já atraiu atenção nacional e levou o governador do estado, João Doria (PSDB), a determinar o repasse de R$ 15 milhões para obras de emergência e ações de acolhimento nas cidades mais afetadas. O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), também prometeu visitar a região.
No estado de São Paulo, a Defesa Civil calcula que ao menos 70 pessoas morreram por conta de desabamentos e soterramentos desde o verão de 2014, início da série histórica. A maioria dos casos ocorre em regiões pobres, com casas construídas em áreas de risco, como as localizadas em cima de encostas ou próximas a córregos.
Questão política
Especialistas afirmam que, além do déficit habitacional do estado, a falta de fiscalização nas áreas de risco e planejamento das prefeituras no processo de urbanização são os outros principais fatores por trás das tragédias.
“Toda cidade que se preze tem que ter um mapa geológico de risco, justamente para evitar esses deslizamentos. O problema é que esses municípios mais pobres às vezes não têm nem orçamento para fazer esses estudos”, diz o engenheiro geotécnico e professor da Universidade Mackenzie Paulo Afonso Luz.
“Medidas de acolhimento, de comunicação [com as famílias em área de risco] são medidas relativamente baratas, possíveis de fazer. Tem uma questão, claro, de recurso, mas tem uma questão fundamental, que é de escolha política.”
Pesquisadora do Observatório de Remoções, iniciativa da USP (Universidade de São Paulo) e UFABC (Universidade Federal do ABC), Talita Anzei Gonsales comenta ainda que os projetos estaduais e federais de moradia — fundamentais aos municípios pequenos — são insuficientes e não funcionam.
Por isso, alega Gonsales, mesmo quando a remoção dessas pessoas em locais de risco acontece a tendência é que novas ocupações irregulares voltem a se formar no mesmo local em poucas semanas.
“Essas famílias [de menor renda] precisam morar e elas vão procurar algum espaço na cidade. Espaços que são menos valorizados, ambientalmente mais frágeis, para se abrigar. E essa conjunção de questões vai fazer que em momentos — e a gente vê isso todo ano — em que as chuvas têm maior incidência aconteçam eventos como esse”, conclui.
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