
Líder indígena aponta ingratidão e ‘amaldiçoa’ Zeca do PT, por críticas à invasão de fazenda
Líder indígena de uma aldeia situada aos arredores da cidade de Amambai, na região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, por meio de um áudio via whatsaap, praguejou o deputado estadual Zeca do PT, pelas sistemáticas declarações contra a recente ocupação de uma fazenda, tomada por índios guarani-kaiowá, em Rio Brilhante, município distante 165 quilômetros de Campo Grande.
Por sentir-se traído pelo também ex-governador de MS, a liderança mandou um duro recado ao deputado, dizendo-lhe para não voltar mais à aldeia, do contrário recorreria ao “feitíço e à macumba” para prejudicá-lo. “Não sai vivo”, é parte da mensagem.
Fala do também ex-governador de MS exaltou mais ainda os ânimos dos indígenas, a que Zeca pediu a cabeça do número 2 do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena, advogado, com formação em doutorado, nascido numa aldeia em Aquidauana.
Essa declaração foi dada ontem, terça-feira (30), justamente quando os indígenas promoviam um manifesto no saguão do legislativo estadual contra a aprovação do Marco Temporal, em debate no Congresso Nacional. O projeto prejudica as demarcações de terras indígenas.
O áudio do líder chegou à redação do Correio do Estado por meio do indígena Magno Souza, que mora num assentamento em Dourados, escolhido para enviar o diálogo ao deputado. Amigo do emissor do áudio, Magno, que disputou a eleição para o governo de MS, ano passado, pelo PCO, não revelou o nome do líder.
No entanto, ele ajudou na tradução do recado mandado ao deputado Zeca, gravado em guarani, idioma originalmente indígena.
De acordo com a tradução de Magno, não integralmente, mas “o que mais ou menos ele [líder indígena de Amambai] falou ao Zeca, foi isso?”:
“Zeca, você era nosso parceiro que sentava com a gente e conversava em guarani na varanda. Agora, você mudou de lado, virou um canibal, anda criticando nossas ações”, disse o líder.
O deputado estadual, durante sessão na Assembleia Legislatura disparou críticas contra a ocupação da área em Rio Brilhante.
Continuou o líder, pelo áudio:
“Quem te ajudou e fez a reza do pai da terra e pediu para que você fosse o grande líder fomos nós. Agora, joga os guarani-kaiowá no fogo, julga a gente. Nem vem aqui. Sabe que somos feiticeiros, macumbeiros. Se tiver coragem e vier aqui não volta vivo”, disse o líder demonstrando imensa irritação com o ex-governador.
Noutro trecho da conversa, o líder indígena deixa a entender que a “postura” de Zeca do PT em criticar os manifestos dos guarani-kaiowá, como a ocupação da fazenda, por exemplo, favorece a aprovação do Marco temporal.
Marco temporal é uma tese jurídica que defende que os povos indígenas só têm direito às terras já ocupadas ou em processo de disputa em 5 de outubro de 1988, dia da promulgação da Constituição Federal.
Hoje, a questão – já aprovada pela Câmara dos Deputados – seguiu para a votação no Senado e também será julgada semana que vem no STF (Supremo Tribunal de Justiça).
INTERPRETAÇÃO IGUAL
Magno Souza afirmou que pensa igual ao líder em relação a Zeca.
“Já não temos terra suficiente e, agora com o Projeto de Lei 490, a situação fundiária dos indígenas deve piorar. Já falam que os indígenas são vagabundos, bêbados, não trabalha, e agora?”, afirmou Magno.
O ex-candidato afirmou ainda que a aprovação do projeto deve acender “ainda mais” a ira dos ruralistas contra os indígenas.
Fonte: Correio do Estado – Por Celso Bejarano e Alison Silva – Foto: Deputado estadual Zeca do PT, durante campanha eleitoral no ano passado, em visita a aldeia Sucuri, em Maracaju – Facebook de Zeca do PT
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