Mudanças em lei fazem vendas de armas decolarem na Capital
Os comerciantes do setor de armas em Campo Grande comemoram o aumento na procura pelos equipamentos e revelam que o interesse maior da população tem sido pelos modelos que antes da flexibilização do Estatuto do Desarmamento, feita pelo governo federal, eram considerados de uso restrito.
Entre os mais procurados estão as pistolas 9 mm, .40 e .45 e os revólveres 357, que antes da flexibilização apenas as polícias civil e militar tinham permissão de uso, em razão da maior capacidade ofensiva desses modelos.
Anteriormente, o Exército Brasileiro limitava a concessão de armas para cidadãos comuns a uma capacidade de 407 joules de energia de disparo, em armas de cano curto, como as de calibre 38, 22, 25 e 32. Agora, o número subiu para 1.620 joules de energia no lançamento do projétil.
A mudança possibilitou a adesão de alguns calibres que antes eram restritos.
O Correio do Estado percorreu algumas lojas que comercializam os artigos na Capital para averiguar se o setor reafirma os índices catalogados pela Polícia Federal, conteúdo que foi retratado em matérias publicadas nesta semana e que indicavam o aumento do número de registros de posse e porte de arma de fogo no Estado de 2018 a 2021.
Em todas as lojas a resposta foi unânime: aumentou muito, confessaram os entrevistados.
Dono de uma loja de pesca, armas e munição, Eliezer Melo Carvalho, conhecido pelo apelido de Jacaré, contou que antes da mudança na legislação a loja sobrevivia com a renda arrecadada pela venda de produtos de pesca, o que para o empresário não era substancial.
“Notei muito o aumento da procura por armamento. Porque antes vendíamos só armas autorizadas, como a calibre 38, 765, 380. Com o decreto do [presidente Jair] Bolsonaro, ele abriu para vendermos todos os tipos restritos de calibre, como .40, 357 e .45, e isso alavancou demais as vendas”, acentuou.
Carvalho diz que as armas que eram de uso restrito e as armas de caça são as mais procuradas na loja. Conforme relato, a aquisição de uma arma de fogo não é simples, porque além de todos os testes e provas também é feita uma sondagem civil, criminal, militar e eleitoral para verificar se o solicitante tem algum problema com o País.
“Quem compra em loja são cidadãos honestos. Aqueles que querem fazer o mal, creio que devem ir comprar nos países que fazem fronteiras com o Brasil, como a Bolívia e o Paraguai”, pontuou.
CUSTO
A loja de venda e despacho de armas comercializa uma pistola e revólver de entrada a R$ 4.200. Para os caçadores, atiradores desportivos e colecionadores (CACs), o valor inicial aumenta significantemente, com variação de R$ 4.500 a R$ 8.200.
O atendente de loja Matheus Escobar reforçou que antes da mudança feita pelo governo federal o local vendia uma arma por semana. Agora, o estabelecimento vende cinco por dia.
“Antes, no ex-governo, não tinha comércio, vamos falar assim. A venda do que antes era restrito a gente vê que aumentou muito, porque além de vender somos despachantes, então vários clientes nossos querem comprar direto do site, importação. A procura por outras armas também aumentou bastante”, ressaltou.
O servidor frisou que a procura maior é de CACs. “Está saindo bastante. Do começo deste ano até o momento, está saindo bastante. As que mais saem são pistolas 9 milímetros e 357”, finalizou.
OUTRAS LOJAS
Antônio Ferreira Neto, gerente de outra loja especializada na venda de materiais de pesca, sobrevivência e armas, também comercializa armamentos que antes eram restritos e afirma que a procura aumentou muito ultimamente.
O local vende, em média, 100 armas por mês, três vezes mais do que antes das mudanças nas normas armamentistas. Desse total de armas, Neto declarou que pelo menos 90 são vendidas aos CACs.
“Aumentou consideravelmente, de Cac foi 90% do que era antes. Também aumentou a procura por armas no geral. Hoje, vendemos 70% a mais do que antes” pontuou.
Entre as armas mais comercializadas na loja, o gerente declarou que a “pistola de uso velado”, ou pistola compacta, é a que mais tem saída, seguida de revólver, que costuma ser mais usado durante a caça.
Conforme publicado pelo Correio do Estado, o número de CACs que têm permissão para porte de arma, ou seja, que tiveram autorização expedida pelo Exército, por meio do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), soma 16.356 caçadores catalogados e ativos em Mato Grosso do Sul. Os dados foram fornecidos pelo Comando Militar do Oeste (CMO).
Em Mato Grosso do Sul, em quatro anos, o número de registro de armas de fogo catalogadas no Sistema Nacional de Armas (Sinarm) cresceu 793%, de 618 registros de armamento em 2018 para 5.524 em 2021.
Já o número de registros de porte de arma aumentou 9.125% no Estado, de 4 em 2018 para 369 no ano passado.
Fonte: Correio do Estado – Por Natália Olliver – Foto: Mercado desses instrumentos em Campo Grande está aquecido com as alterações feitas pelo governo federal na legislação – Gerson Oliveira
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