O que se sabe sobre o vírus influenza H3N2 que circula no Brasil

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epidemia de gripe no estado do Rio de Janeiro, provocada pela variante H3N2 do vírus influenza, já dá sinais em outros locais do país e deixa em alerta autoridades sanitárias, especialmente no momento em que muitos brasileiros vão viajar e se reunir com familiares e amigos.

A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo registrou nas primeiras duas semanas 82% do número de casos de síndrome gripal contabilizados em todo o mês de novembro – o dado inclui indivíduos com Covid-19 (cerca de metade). Em Salvador, também já está confirmado um surto de gripe. 

Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) alertou no último dia 9 para o risco de o vírus influenza se espalhar pelo Brasil juntamente com o coronavírus.

A gripe tem uma letalidade menor que a Covid-19. Mesmo assim, grupos de risco (crianças, idosos, gestantes e indivíduos com comorbidades) têm maiores chances de evoluir para casos graves.

O que é o H3N2

Assim como o H1N1, o H3N2 é um subtipo de influenzavírus A. As diferenças entre eles ocorrem por mudanças nas proteínas de superfície – hemaglutinina e neuraminidase.

“Embora mais de 130 combinações de subtipo de influenza A tenham sido identificadas na natureza, principalmente em aves selvagens, existem potencialmente muito mais combinações de subtipo de influenza A, dada a propensão para o ‘rearranjo’ do vírus. O rearranjo é um processo pelo qual os vírus da influenza trocam segmentos de genes”, esclarece o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

O professor Alexandre Naime Barbosa, chefe da infectologia da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) em Botucatu, ressalta que as vacinas usadas hoje no mundo ainda não conferem proteção completa contra esse tipo específico de H3N2.

“O H3N2 que está circulando é o que a gente chama de variante Darwin, não é o H3N2 que está na vacina da gripe atual. A vacina atual talvez dê uma imunidade cruzada baixa ou moderada. Então, isso explica por que quem foi vacinado pode, eventualmente, ter quadros de gripe por esta cepa. Mas os não vacinados ainda têm mais probabilidade de se infectar e ter quadros graves. Tivemos um índice muito baixo de vacinação contra influenza.”

O vírus que está por trás do aumento de casos de gripe não é novo, mas começou a circular com mais intensidade no hemisfério norte nos últimos meses, o que levou a OMS (Organização Mundial da Saúde) a incluí-lo, em setembro, nas recomendações para atualizações das vacinas contra influenza para 2022 no hemisfério sul.

O Influenza Research Database, um banco de dados global com informações sobre os tipos de vírus da gripe já identificados, mostra que a cepa H3N2 foi coletada pela primeira vez em 1999 na Austrália e teve o genoma submetido ao GenBank em 2008.

Sintomas mudam?

Muitas pessoas que pegaram gripe recentemente relataram sintomas intensos, como febre alta e um quadro de extrema indisposição.

Barbosa explica que, independentemente do tipo de cepa, esses são sintomas característicos da infecção pelo influenza, principalmente em quem não se vacinou.

“O influenza em geral dá um quadro muito agudo, súbito, de mal-estar, febre alta, prostração, é uma sensação bem intensa. Muitas vezes o paciente fala que parece que vai morrer. Causa uma apatia muito grande, a pessoa fica largada, não consegue sair da cama. É diferente da Covid, que é um pouco mais lenta no começo. Também dá dor no corpo, mas não derruba tão rápido quanto a influenza.”

Vacinação ainda garante certo nível de proteção cruzada, afirma infectologista – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Ele acrescenta que a febre costuma ser mais alta do que a da Covid-19, além de os pacientes apresentarem adinamia, que é a falta de força muscular.

Ainda vale a pena tomar a vacina?

Na avaliação do infectologista, é importante aumentar a cobertura vacinal, mesmo que a vacina não tenha a melhor proteção contra o H3N2 Darwin.

Em todo o Brasil, apenas 42% do público-alvo tinha tomado a vacina da gripe até julho, quando o Ministério da Saúde expandiu a campanha para a população em geral. 

O estado de São Paulo, por exemplo, havia conseguido atingir somente 40% de cobertura do público-alvo até junho.

R7 entrou em contato com alguns postos de saúde da capital paulista nesta quarta-feira (15), mas nenhum deles tinha vacinas contra gripe disponíveis. Na rede privada é possível encontrá-las. 

Um dos motivos apontados por especialistas para a baixa procura pela vacina da gripe era o tempo de intervalo que deveria ser observado entre os imunizantes de Covid-19 e influenza, de duas semanas, o que fez muita gente dar preferência à primeira.

No fim de setembro, o Ministério da Saúde passou a permitir que as injeções fossem aplicadas no mesmo momento. Mesmo assim, não houve aumento pela procura da vacina antigripe.

Cuidados

Pelo fato de o influenza ser um vírus respiratório, assim como o que causa a Covid-19, a prevenção contra ele ocorre da mesma forma: com distanciamento físico entre as pessoas, uso de máscara e higiene das mãos.

O afrouxamento das medidas restritivas nos últimos dois meses é apontado por pesquisadores da Fiocruz como um dos fatores que contribuíram para a epidemia de gripe no Rio de Janeiro e que pode se alastrar nas próximas semanas.

Em caso de qualquer sintoma gripal, Barbosa afirma ser importante buscar um serviço de saúde.

“Primeiro, porque é preciso excluir [a possibilidade de ser] Covid. Segundo, porque, principalmente na rede privada, existe essa possibilidade de painel viral [para identificar o vírus específico que o infectou] – existem testes rápidos na rede pública, mas não diferenciam qual tipo de influenza é.”

Ao contrário da Covid-19, a gripe tem um antiviral aprovado e que pode ser usado: o oseltamivir.

Ao confirmar que se trata de infecção por influenza, o médico pode lançar mão dessa droga nas primeiras 72 horas desde o início dos sintomas.

“Ele diminui o tempo de sintomas e a gravidade. É indicado a grupos de risco: idosos, pessoas com comorbidades e gestantes.”

Fonte: R7 – Por Fernando Mellis, do R7

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